Criança, este ser fantástico

25/06/2014 22:09

Por Roque Colling

          Dia 12 de outubro festeja-se o Dia da Criança. Criança, este ser fantástico. Criança que consegue fazer gente adulta misturar o riso e o choro numa mesma emoção. Criança, este ser tão frágil e tão forte ao mesmo tempo. Criança que fez e Rei Salomão usar de sua sabedoria para descobrir a verdadeira mãe, em episódio da Bíblia. Até Deus escolheu ser criança para surgir como Salvador da humanidade. Criança, este mensageiro da paz, que é fruto de um ato de amor.

          Você que está lendo estas linhas, pergunte a si mesmo se existe algo mais inocente, mais lindo, mais puro, mais afável, mais carismático, mais angelical, mais meigo... e muitos outros mais, do que uma criança.   Imaginem, mesmo fazendo arte, a criança é um artista.          Dia desses, ao viajar de ônibus, numa destas minhas idas e vindas de Montenegro a Porto Alegre, sentou-se no banco à minha frente um senhor bastante humilde, com um bebê no colo. Estava acompanhado ainda de um menino e de uma menina, lá entre seus seis ou sete anos. Ao meu lado sentara-se uma senhora, que, ao reconhecer uma amiga sua em outro banco, foi sentar-se com ela, vagando o assento ao meu lado. Pensei com meus botões: tomara que estas duas crianças venham ocupar o assento vago junto a mim. Não deu outra. Chegaram um tanto tímidas e encabuladas. Tratei logo de animá-las. Puxei da minha bolsa duas folhas de ofício e pus-me a fazer uma caixinha de papel, que é uma brincadeira que gosto e costumo fazer para a meninada. Feito uma, a outra também queria. Fiz então a segunda e ambas estavam sorridentes. Carregava bom-bons comigo e coloquei um em cada caixinha. A festa estava ficando cada vez mais animada.

          Pôxa tio, como o senhor é legal, diziam. Seus olhos brilhavam qual duas bolitas de gude. Os da menina eram totalmente pretos, mais pareciam duas pequenas jabuticabas, emolduradas por um belo rosto, apenas judiado pela falta de cuidados.      Eu dizia para ela: você é muito bonita, e um dia será uma miss. Com certeza ela não sabia a que eu estava me referindo, mas parecia feliz com o que eu estava dizendo.        Perguntaram o meu nome, e logo perguntei o deles: eram Jorge e Maria. Indaguei pelo pai e pela mãe e imediatamente responderam: o pai está ali no banco da frente. O pequeno no colo dele é nosso irmãozinho. Mas mãe nós não temos. Levei um susto, me compadeci, e para não ser indiscreto tratei de me recompor e logo mudei de assunto.

          As conversas rolavam soltas, as mais variadas possíveis e entre umas e outras queriam até saber se eu era colorado ou gremista. Eu estava tomado pela empolgação e pela emoção e nem sequer percebi que os outros passageiros estavam nos observando.          Tudo era novidade para as duas crianças: o trem que cruzava logo ao lado, o avião que sobrevoou o ônibus, os prédios altos, as águas enormes do Guaiba, as pontes do Guaiba etc... etc...          Quando me dei conta estávamos chegando à rodoviária de Porto Alegre e na verdade lastimei que nossa viagem estivesse chegando ao seu final.          Após o desembarque me despedi das crianças e recomendei ao pai que fosse cuidadoso com elas. Ele, um tanto espantado, me garantiu que sim.

          Certamente nunca mais tornarei a ver estes dois seres pequeninos, que por um momento fortuito, tanta alegria me proporcionaram e talvez eu tenha proporcionado a elas.          A partir daquele momento era necessário que cada um tomasse o seu rumo. Na verdade estarão por muito tempo em minha memória, mesmo não sabendo por onde andam e o que estarão fazendo. Se lembrarão elas de mim? Por algum tempo acredito que sim. Ao menos quando forem mexer nas caixinhas...

          O que mais desejo do fundo do meu coração que o Jorge e a Maria sejam muito felizes e que consigam alcançar um belo futuro em suas vidas. E um Feliz Dia das Crianças.

          E também um Feliz Dia das Crianças para todos os Jorges e para todas as Marias que habitam o nosso planeta.